2. Niassa

Na ida.

Suspensos na amurada mas já sob a mira do destino.

Pura ilusão… já não há bóia que nos salve nem bóias que cheguem para todos.

Cada vez mais longe do princípio e tão perto do fim. Quem sabe?

3 Respostas to “2. Niassa”

  1. Manuel Moura Alves Says:

    Foi no Niassa que o meu Bat4518 embarcámos para a Guiné-Bissau a 28 de Dezembro de 1974.
    Manuel Moura
    ex Furr Milº

  2. Manuel Vitorino Says:

    Foi no dia 29 de Dezembro de 1973 que o Batalhão 4518 partiu para a Guiné-Bissau. Recordo-me como se fosse hoje: o Niassa zarpou cerca das 18 horas e o dia esteve sempre triste e cinzento. A viagem de comboio desde Tomar até ao cais de Alcântara-Mar, em Lisboa foi, igualmente, difícil e penosa. Depois de uma passagem por Bolama, lá fomos para Cancolim, na zona Leste do país, quase na fronteira com o Senegal. Fui à guerra e não deu um tiro. Participei em diversas acções de combate mas, felizmente, para as nossas tropas, o PAIGC nunca esteve por perto. Tenho a certeza que toda a gente morria. Porquê? Porque nenhum de nós estava minimamente preparado (nem física, nem psicologicamente) para entrar numa guerra deste tipo. Na Pátria de Amílcar Cabral aprendi várias coisas e dei mais valor à amizade, à partilha de sentimentos e espírito de entreajuda. Na guerra também tive a minha nesga de felicidade. Recordo-me de ter sempre Balantines debaixo da cama, água Perrié à mesa e Gitane para a melancolia. Regressei no dia 18 de Setembro de 1974, ao som de duas bonitas canções de José Afonso e Cat Stevens e lá longe, no meio do mato, vivi através da BBC a madrugada mais bela deste país. Depois, a Revolução marcou passo e agora estamos todos de mão estendida ao FMI. Mais pobres, amargurados e tristes. Mais grave: sem futuro. Um dia destes tenciono regressar à Guiné-Bissau. Desta vez sem dramas porque sei que vou regressar ao canto da minha aldeia.

    Manuel Vitorino

    ex-Furriel Miliciano (Atirador de Infantaria, com a especialidade de Minas e Armadilhas. Depois de Abril de 1974 fui promovido a Vago-mestre, responsável da cozinha da 2ª companhia do BC 4518. Ajudei a saciar a fome aos camaradas de armas, bem como aos nativos que viviam em palhotas de Cancolim. A mesa foi uma festa e cada refeição um banquete.

  3. Rapazinho Correntas Says:

    Em FARP (PAIGC), eu era responsável pelo transporte por Ziguinchor (Sénégal) de todos os prisioneiros militar Portugueses menores de idade. Eles tinham entre quinze e dezessete anos. Que alegria quando elles chegaram Santhiaba em Ziguinchor.

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